TECNOLOGIA, INFORMAÇÃO E ATORES: CONECTANDO AS PARTES DA CIDADE INTELIGENTE

#23

Alexandre Hojda

O objetivo desse trabalho é analisar as cidades inteligentes como o resultado do conjunto de diferentes partes: a tecnologia, a informação e o homem, pois sobretudo este último comumente é “colocado em segundo plano” quando se fala de cidade inteligente.
Caracterizadas como complexas e heterogêneas, as cidades assistiram ao agravamento dos seus problemas urbanos como congestionamentos, poluição e degradação da qualidade de vida.
Os desafios na urbe envolvem tanto os governantes, que são pressionados por demandas crescentes (versus orçamentos restritos), como a sociedade, que necessita aprender a viver em aglomerados urbanos mais acirrados, cujos serviços públicos estão longe de serem adequados. Conciliar pressão e dinâmicas urbanas pode ser viabilizado empregando novas estratégias, como a ampliação do uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs).
O uso das TICs envolve aproximar a cidade tradicional (material) da cidade tecnológica (virtual), Castells (2003) já destacava essa relação, denominada de “Cidade digital” ou “Cidade Informacional”, ou seja, uma realidade onde as tecnologias se tornam cada vez mais presente na infraestrutura da cidade e na vida do cidadão. (Castells, 2003,)
As cidades são pulsantes, geram e demandam informações e na tomada de decisão é vital ser rápido e conectado. Dessa forma a cidade informacional se materializa na “cidade inteligente”, não apenas na adoção de tecnologias digitais, mas a percepção do “inteligente” como sensível, humano, instantâneo, eficiente, ligado etc.
As TICs são apenas um ferramental (uma das partes) para o desenvolvimento das cidades inteligentes, mas não exclusivo. A tecnologia deve ser moderna e interligada, a informação precisa ser disponível, de qualidade e organizada. Por fim o homem, seja ator governamental, privado ou ligado a sociedade (ofertante ou demandante de informações ou serviços), é de suma importância para a materialização da cidade inteligente.
Cidade inteligente é um conceito intimamente vinculado a tecnologia e a informação, porém não existe uma definição única que estabeleça nitidamente o que consiste e quais são suas características. (Quesada & Pulido, 2012)
Para facilitar o entendimento adota-se aqui o conceito de "cidade inteligente" como:

“...a cidade é inteligente quando os investimentos em capital humano e social (pessoas inteligentes), transporte (mobilidade inteligente), e infraestrutura digital (TIC), economia sustentável (economia inteligente) e uma elevada qualidade de vida (vida inteligente), somando a uma boa gestão dos recursos naturais (ambiente inteligente), através de uma governança participativa (governança inteligente)”. (Steenbruggen et al., 2014, p. 3) (Tradução própria).

Observa-se uma ampla gama de caracterizações na literatura sobre cidade inteligente, podendo ser encontrados projetos que se autodenominam cidades inteligentes, com abordagens que vão de: governança, ambiental, econômica, cidadania, oferta de internet livre, energia inteligente, informações e serviços na internet, monitoramento e vigilância etc.
A tecnologia atualmente permite medir e controlar coisas antes inimagináveis, além de viabilizar conexões entre diferentes objetos (por exemplo a internet das coisas), possibilitando a trocas de informações entre si, podendo resultar em ações corretivas (inclusive de forma autônoma) e até mesmo preventivas. (Taurion, 2011)
Tornar as cidades mais inteligente (baseado em conexões, interações, relações, softwares, sistemas, máquinas etc.) são ambicionados via o uso das TICs, o que favorece a formação de grandes bancos de dados. A grande quantidade e variedade de dados disponíveis na internet e com as tecnologias é denominado de Big Data. (Kanashiro et al., 2013)
A informação deve ser vista como um meio e não um fim, ela necessita ser compreendida para ser utilizada no processo de tomada de decisão, pois a informação é um recurso que as instituições dispõem (e precisam) e são tão importantes quanto recursos financeiros, materiais e humanos. Para se transforma dado em informação, deve-se levar em conta o contexto, as unidades de análise, a parte quantitativa, correções e ajustes e pôr fim a condensação dos dados. (Strauhs et al., 2012)
Cidade inteligente é mais do que apenas a soma das tecnologias com as informações. Envolve a tomada de decisão rápida e precisa baseada nas informações e para tanto esse circuito só se completa com as pessoas (atores governamentais, privado e sociedade).
Anderle & Freitas Jr. (2013) destacam que as TICs são essenciais para a existência das cidades mais inteligentes, mas o investimento em capital humano e social deve ocorrer para o sucesso da cidade mais sustentável em termos econômico, ambientais, governança e qualidade de vida. (Anderle & Freitas Jr., 2013)
Lemos (2013) realça que a cidades inteligentes é um conceito no qual as pessoas são produtoras e demandantes de informação. Nesse contexto do Big Data, as pessoas podem ofertar e ter acesso a informação, por exemplo pelo seu celular, tablet, internet etc. Isso pode inclusive mudar a relação de empoderamento entre o cidadão e a cidade. (Lemos, 2013)
Komninos (2007) amplia a argumentação sobre as Smart City no que tange as pessoas, pois segundo o autor:

“...a cidade inteligente deve ser resultado de combinações de capacidades humanas, de instituições de ensino e de tecnologia digital (resultam em novas funções da cidade, como inteligência estratégica, transferência de tecnologias, obtenção de inovação por meio da colaboração e a prestação digital de serviços).” (Komninos, 2007, p. 1)

Talvez uma lacuna na literatura de cidades inteligentes ocorre no que tange os atores, pois para atuarem de maneira adequada, estes devem ser estimulados na questão da relação de atores, confiança e cooperação.
O discurso de cidades inteligentes é muito relevante para as cidades perante seus desafios e realidades. Os governos têm caminhado no sentido de compreender que o investimento em tecnologia e informação é um ganho de escala perante as deficiências e a sociedade já está entendendo que com a tecnologia se pode, inclusive viver melhor.
Por fim o texto aventura-se em destacar que das partes da cidade inteligente o homem é um dos pontos mais relevantes e talvez menos trabalhado, pois se atribui grande peso aos milhões gastos com a compra de uma dada tecnologia, mas pouca ênfase com o treinamento, o envolvimento, a motivação do homem nesse processo. O despreparo, o desconhecimento e o desincentivo do ator envolvido podem a um cenário negativo de descontinuidade, ao desinteresse e por fim fazer toda “cidade inteligente” perder sua capacidade de integrar, de atuar e de contribuir.

Palavras-chave: atores, cidade inteligente, informação, tecnologia.

Referências:
Anderle, D. & Freitas Jr., V. (2013). A utilização da Tecnologia da Informação nas Smart Cities um estudo bibliométrico. Anais do III Congresso Internacional do Conhecimento e Inovação, v. 3, Porto Alegre.
Castells, M. (2003). A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra.
Kanashiro, M. et al. (2013). Maquinaria da privacidade. RUA, 19(2). Recuperado em 02 de julho de 2014 de http://www.labeurb.unicamp.br/rua/.
Komninos, N. (2007). Cidades Inteligentes: Sistemas de Inovação e Tecnologias da Informação ao serviço do Desenvolvimento das Cidades. Interface Administração Publica Local e Regional Anuário 2007, 5-9. Recuperado em 05 de abril de 2014 de http://www.urenio.org/komninos/publications/.
Lemos, A. (2013). Cidades inteligentes - De que forma as novas tecnologias — como a computação em nuvem, o Big Data e a Internet das Coisas — podem melhorar a condição de vida nos espaços urbanos? Revista GV Executivo, 12(2), 46-49.
Quesada, S. & Pulido, A. L. (2012). Smart city: hacia un nuevo paradigma en el modelo de ciudad. III Salon de la Eficiencia Energética em Edificación y Espacios Urbanos, Málaga.
Steenbruggen, J. et al. (2014). Data from mobile phone operators: A tool for smarter cities? Telecommunications Policy. Recuperado em 01 de setembro de 2014 de http://dx.doi.org/10.1016/j.telpol.2014.04.001.
Strauhs et al. (2012). Gestão do Conhecimento nas organizações. Curitiba: Aymará.
Taurion, C. (2011). Cidades Inteligentes: o desafio de preparar as cidades para as próximas décadas. Recuperado em 20 de dezembro de 2013 de http://www.hiria.com.br/static/files/central-de-downloads/03.pdf